No Presépio de Francisco cabem tudo e todos, sim!
Em Greccio, quando em 1221, fez o primeiro Presépio, colocou ali um Deus descido da Cruz de São Damião e misturado na paisagem dos simples. No Presépio de Francisco cabem tudo e todos, sim! Camponeses e pobres, sofridos e os considerados heréticos, os esquecidos nas montanhas da Úmbria e os que sabiam o que era a fome, o frio no forte inverno. Os que não tinham a palavra no presbitério, mas que podiam, em meio a um bosque, proclamar a Palavra Encarnada. A missão da Encarnação reencanta a dimensão religiosa, mostra uma salvação integral, espírito e corpo.
No Presépio, Francisco fez os povos crucificados celebrarem sem a cruz do sofrimento, mas na alegria de sonhos e esperança. É a ortopraxia leve e feliz numa paisagem de encontro de mundos. Ainda bem que os que crucificam o povo, não estavam ali em Greccio, e nem foram reclamar com o Cardeal sobre o escândalo do Presépio e de Missa, dizendo que ali não é lugar para mostrar os desníveis do mundo. A ortodoxia não sabe ver a beleza real da paisagem porque tem olhar afunilado para o exclusivamente religioso, e muitas vezes, na prisão dos conceitos, não sabe ver a fala real das coisas.
O franciscanismo abraça o Evangelho da Libertação inspirado no jeito que seu fundador, Francisco de Assis, que mesmo sem ter a pretensão de ser um teólogo, está entre os grandes teólogos da história do cristianismo; porque procurou entender o Evangelho a partir da realidade em que estava, sempre na direção da justiça e da fraternidade. A teologia de Francisco de Assis é o falar com Deus e falar sobre Deus; um Deus que se apresenta de um modo divino e humano encarnado em Jesus Cristo, o Deus Humilde e Pobre; é o Deus Altíssimo, o Grande e Forte, o Sumo Bem, o Senhor da Criação e das Criaturas, e de imensa ternura e misericórdia para com o seu povo.
Francisco de Assis volta o seu olhar para o alto e encontra-se com este Deus maravilhoso. Volta o seu olhar para o lado e encontra irmãos e irmãs. Volta este olhar para a linha que dividia a sociedade de seu tempo entre nobres, burgueses, plebeus e pobres, e encontra ofendidos e humilhados, os expulsos para fora dos muros das cidades. A sua fé o coloca no caminho e em meio aos ofendidos da história. É uma fé de compromisso cristão a partir do cuidado e da reconstrução da casa do coração, dos valores, do mundo e da Igreja. Uma fé que sai das nuvens para a terra e o faz andar com os pés bem fincados na conjuntura de sua época.
CONTINUA
FREI VITORIO MAZZUCO
Fonte: carismafranciscano.blogspot.com.br
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