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26 setembro 2017

1º mosteiro após perseguição religiosa completa 90 anos, no Rio - JCTV - 22/09/17


O primeiro mosteiro criado após a perseguição religiosa está no Rio de Janeiro e celebra 90 anos. O Cardeal e Arcebispo Orani João Tempesta fez a abertura do ano jubilar.

É preciso voltar a Assis - III



Precisamos resgatar uma moral teológica para o mundo

É tempo de limpar a vida de egoísmo, estagnação, vaidade, presunção, negligência, falta de delicadeza, instabilidade, fé fragilizada.

O lema do Brasão Episcopal do Papa Francisco, quando era Arcebispo em Buenos Aires, era este: "Miserando atque elegendo”: olhando com amor o escolheu. Hoje temos que colocar este olhar de misericórdia e viver a misericórdia dentro de uma relação horizontal entre ética e ontologia: valores que definem o Ser. É o grande momento da Ontologia, Axiologia e Cosmologia.

A Misericórdia não é apenas uma lei moral ou ética, mas é uma virtude essencial para qualquer relacionamento. A Misericórdia, a Fraternidade e a Compaixão correm o risco de não serem entendidas se a comunidade mundial não for colocada em contato com a possibilidade de superar abismos enormes que nos separam, abismo culturais, abismos da intolerância, abismos da ausência de valores que impactam as diversas dimensões da vida. Diz o Papa Francisco: “Um dos graves problemas de nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida”.

A Misericórdia é a grande virtude de Deus, e nós precisamos resgatar uma moral teológica para o mundo. O que temos é uma moral de Estado onde só existem direitos e não deveres, e isto cria dicotomias infernais. A Misericórdia, como compaixão e respeito pela vida das pessoas, é um esvaziar-se para dar sentido à lógica da vida de todo ser humano. É uma ética de alteridade e uma moral que respeita e acolhe a maneira como a vida de alguém deve se desenvolver.

A Misericórdia é o coração pulsante do Evangelho! Diz nosso Papa Francisco: “A misericórdia de Deus é o coração pulsante do Evangelho, e que por meio dele deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa e de todas as criaturas”.

O destinatário da Misericórdia é, a partir desta convocação, qualquer criatura que habita a face da terra; aqueles que vivem a vida como ela se apresenta, com suas limitações, mas alegrando-se com a felicidade dos que possam ter uma possibilidade de vida melhor; criaturas humanas que estão na rua, na casa, no trabalho, na escola, no concerto, no hospital, na prisão, no quartel, na fábrica. O destinatário da Misericórdia é a pessoa que acorda e vai trabalhar, que sofre no trânsito, luta pelo lugar nos meios de transporte, que está na desesperança do desemprego ou na dúvida e na dívida, na droga e no álcool; os que precisam desenvolver esforços físicos, psicológicos ou mentais para enfrentar esse jogo de mil combinações do dia a dia.

CONTINUAÇÃO DOS APONTAMENTOS DA PALESTRA NO CAPÍTULO DAS ESTEIRAS DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL - APARECIDA - AGOSTO 2017

FREI VITÓRIO MAZZUCO

É preciso voltar a Assis - Final



Misericórdia é dar o coração aos mais fragilizados

Misericórdia é Vida Fraterna! Nós não somos apenas um ajuntamento de pessoas, mas uma consanguinidade espiritual que nos vincula uns aos outros. A Fraternidade nos conecta. Somos todos do mesmo DNA de Clara e Francisco, e este sangue que corre em nossas veias tem uma poderosa implicação humanística: compartilhamos uma mesma natureza humana e divina. Cor e miseratio! Misericórdia é chave para abrir e entrar na porta santa do Reino.

“O Amor de Deus é a flor e a Misericórdia o fruto” (Santa Faustina Kowalska). O fruto do Amor é a Misericórdia, tudo o que é Amor é Misericórdia. Misericórdia não é atirar pedras, mas estender as mãos; fazer pontes e não exclusão, atar feridas dos necessitados, levar o errado a enxergar o erro.

Misericórdia é dar o coração aos mais fragilizados (miseris cor dare). O Papa Francisco, inspirado em Santo Agostinho, coloca dois aspectos da Misericórdia: 1. O Coração é o centro 2. Uma situação miserável, seja material ou espiritual. A Misericórdia, que tem a sua fonte no Amor, é um Amor feito de Coração, exercido em presença de sofrimento ou desordem.

“Há o amor de pai e filho, o amor de casal, o amor de irmãos e irmãs de sangue, o amor de amizade, o amor de fraternidade, o amor de civismo, o amor de grupo, e tantos tipos de amor. Cada estilo de amor demanda e desperta na psique um estado peculiar de ação e sensação. Quando exerço o amor em direção a alguém em situação penosa, emito uma forma típica da alma, chamada Misericórdia. Este alguém em dificuldade posso ser eu, e aí há a misericórdia para comigo mesmo e pode ser o outro ou a outra, e aí a misericórdia para com o próximo.

Se eu amo a pessoa por quem estou apaixonado ou me deleito numa ocorrência de beleza e bondade, simplesmente amo. Mas se me dobro sobre alguém no buraco e lhe estendo o braço puxando-o para a situação normal, esse meu ato gratuito de restabelecimento da norma assume o nome de Misericórdia ou Amor Misericordioso. Para além da afetividade e da espiritualidade, a misericórdia tem a ver com o conceito físico e científico da ordem cósmica.

Digamos que a lei básica do universo é a ordem, ou seja, a união, a relação, numa palavra: o Amor. De outra forma, o universo se desintegraria. Tal ordem macrocósmica, que parte do pó atômico e chega às galáxias se, se reverbera em cada um dos seres existentes, chamados microcosmos, incluindo nestes o microcosmo humano que somos nós. Tal ordem ou união nada mais é que o Amor. Os conceitos de amor-união-relação-ordem se interpenetram” (Marchionni Antônio, “A Misericórdia é Lei do Cosmo”, in Fraternidade e Misericórdia- Um olhar a partir da justiça e do amor, Cultor de Livros, São Paulo, 2016, p. 15).

FREI VITÓRIO MAZZUCO

É preciso voltar a Assis - V




Francisco e Clara de Assis não venderam sonhos


Não há misericórdia em lutas ideológicas que chegam à violência. Não há misericórdia se não sair para as periferias existenciais que são mais do que bairro, rua, espaço de cidade ou campo, centros urbanos ou lugares de tensões. A periferia existencial é o vazio da vida, a falta de sonho, de utopias, de esperanças que está nestes lugares e nos corações das pessoas. Tem muita gente que tem mansão confortável, cheia de móveis luxuosos, freezers cheios de comida, dinheiro no banco e no luxo, mas sem felicidade ou projetos para dar a vida um sentido maior. Tem tudo, mas precisam de vícios e experiências traumáticas e excesso de antidepressivo. Há periferia existencial na pobreza material dentro das periferias materiais.

Tem que haver mais misericórdia nas Igrejas e aqui vamos incluir a nossa; pois religião não pode ser um produto bonito e bem embalado para ser divulgado e vendido. Francisco e Clara de Assis não venderam sonhos, nem esperança, nem Deus, nem religião. Nossas liturgias não podem ser um remédio psicotrópico relaxante, cheias de louvores emocionais e ardor neomísticos, mas com pouco Amor pela doutrina social da Igreja e pela mística do Evangelho que deseja conduzir o ser humano a uma experiência de esperança profunda e de uma humanização profunda. Menos gospel e mais proximidade com o doente, com a viúva, criança, idoso e portadores de necessidades especiais.

Somos evangelizadores, discípulos e missionários da Misericórdia e não cidadãos turistas que fazem viagem para discutir economia global e política internacional em lugares exóticos, vendo filmes de arte/cabeça, passeando por lugares calmos e paradisíacos, longe do barulho e dos traumas dos centros urbanos e periféricos. Misericórdia é visitar o Pinel, o Juqueri, visitar a sua rua e saber de seu bairro. É bom sofrer em Paris, mas reconstruir o espaço público mais próximo quem quer?

CONTINUAÇÃO DOS APONTAMENTOS DA PALESTRA NO CAPÍTULO DAS ESTEIRAS DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL - APARECIDA - AGOSTO 2017


FREI VITÓRIO MAZZUCO

É preciso voltar a Assis - IV



Misericórdia não é bondade que se improvisa com validade vencida

O destinatário da Misericórdia é para o que sofre a poluição da cidade que dificulta a fluidez da respiração; os males da estufa de carbono, a água escassa das represas, a bala perdida, os que sofrem a poluição das notícias midiáticas e perdem a opinião própria, os que vivem grudados em celulares que truncam conversas e tiram a nossa inteireza; a revolta tensa das conversas dos que querem a pena de morte, os que sofrem a tormenta diária da imprensa impressa e 'wiliamborneada' nas telas da TV. Os destinatários da Misericórdia são os que têm que escutar constantes notícias ruins, malfazejas, apocalípticas, ou os diários boletins de sangue no Oriente Médio ou do sangue jorrando da cabeça e do peito baleado dos mendigos do centro da cidade. A Misericórdia dá conta e alento à estas criaturas imersas em coisas tão reais? Quebrar a indiferença já é um caminho, pois a Misericórdia é um caminho para conduzir o ser vivente para um outro lugar.

Misericórdia tem a vertente evangélica de dar de comer aos famintos, acolher peregrinos, cuidar dos enfermos, visitar encarcerados, enterrar os mortos, doar roupa para os nus vítimas dos descuidos. Misericórdia é tarefa e exercício de Amor e não desobrigação de um dever burocrático. Tem que ser expressão de algo mais profundo. A Misericórdia vem antes! A justiça aboliu a escravidão, mas a misericórdia, a indignação, a solidariedade para com a dor dos escravos chegou primeiro.

Diz Tagore, o nosso querido poeta e místico hindu: “A Misericórdia é um pássaro, que é o primeiro que, na noite, pressente a alvorada”.

Misericórdia complementa os valores que existem e supre os que inexistem. Misericórdia não é bondade que se improvisa com validade vencida e prazo para acabar, esta duração pré-fixada de campanhas; mas é a própria e constante bondade presente em toda visão e ação humana.

Vamos voltar a florir o vale de lágrimas antes que acabe o vale! Vamos diminuir a quantidade de lágrimas do vale e de toda terra. Vamos unir Misericórdia e Direitos Humanos que é exatamente não deixar faltar o básico para viver. Há Misericórdia no saneamento básico, no avanço econômico sustentável, na saúde e educação de qualidade, na igualdade de gênero, nas vivências participativas, na acolhida aos refugiados.

CONTINUAÇÃO DOS APONTAMENTOS DA PALESTRA NO CAPÍTULO DAS ESTEIRAS DA FAMÍLIA FRANCISCANA DO BRASIL - APARECIDA - AGOSTO 2017

FREI VITÓRIO MAZZUCO

Paulo Machado da Costa e Silva

Os franciscanos seculares conhecem bem o “irmão” Paulo. Os petropolitanos, por sua vez, ao se referirem a ele o designam de “professor Paulo Machado”. Está página é uma manifestação de carinho a um dos mais franciscanos entre os franciscanos. Isto é para começo de conversa.



No dia 17 de maio de 2017 Paulo Machado da Costa e Silva, comemorou festivamente seu centenário de vida numa bela celebração na Igreja do Sagrado Coração de Jesus e na Casa da Ordem Franciscana Secular, em Petrópolis. Familiares, amigos da cidade, muitos irmãos e muitas irmãs da Ordem Franciscana encheram o templo da rua Montecaseros. Um digno cidadão, uma pessoa de Deus, um filho carinhoso de Maria e um irmão franciscano, assim é Paulo Machado. Houve discursos, cantos, aplausos, expressões de gratidão, emoção. O mês de maio em Petrópolis ficou mais bonito e a rua Montecaseros não cabia em si de tanta alegria. Faltaram bandeirinhas e uma banda de música!

Paulo não vive mais em seu apartamento no Edifício Cinda, na rua do Imperador, perto do Colégio Santa Isabel. Há algum tempo ele precisou recolher-se a um Lar de Idosos no Distrito de Itaipava, na Casa dos Irmãos de São João de Deus. Numa tarde de setembro recebi o convite de um terceiro franciscano para visitar o Irmão Paulo já com 100 anos e quatro meses.

Ele passou a viver num quarto asseado e claro com as coisas necessárias para uma vida digna. Lá chegando encontrei Paulo com as vistas marcadas pelos anos, os pés inchados, muito bem vestido com um terno cinza e uma camisa social sem graveta. Dizendo-se cansado, ouvindo com aparelho, respondendo com voz forte, lembrando-se de tudo. Aceitei o convite para a visita também porque queria ainda uma vez administrar-lhe o sacramento da unção dos enfermos. Antes falamos sobre as catástrofes políticas brasileiras, os processos, as condenações, a função do Procurador Geral da República, da Polícia Federal, do Ministério Público. Sobre cada um desses itens ele deu um sucinto e preciso resumo. Evocamos passagens da história: o tempo do governo Eurico Gaspar Dutra, da influência que exercia a primeira dama Carmela Dutra, o tempo de Brasília, do governo Juscelino, da construção da capital no Planalto. Lembramos que nosso Hotel Quitandinha no idos de 1940 recebia a fina flor das artes de Hollywood. Uma conversa amistosa…

Ali estava um pai de família extremado, professor de português e de história, vereador, advogado, assessor da Câmara Municipal, sobretudo um homem reto, um ser humano límpido e transparente, um cristão, um devoto profundo de Maria e honra da Família Franciscana de modo especial dos franciscanos seculares. Exerceu cargos na OFS em muitos escalões. Foi colaborador na redação da preciosa Regra dos terceiros aprovada por Paulo VI em junho de 1978. Um homem que concretizava o ideal do cristão leigo franciscano vivendo no mundo e sempre com o coração a dizer que ele precisava ser contemplativo. Um contemplativo na ação. Nos últimos anos andou se despojando de tudo e passou a viver apenas com o estrito necessário.

Sobre uma cadeira do quarto havia um exemplar do jornal “O Globo” com notícias a respeito de Palocci, Janot e a Lava-Jato. Um homem que se interessa, aos 100 anos, pela vida e pelo que acontece no mundo. Um homem que recebia com gratidão e alegria, uma vez mais o sacramento da unção dos enfermos. Um leigo cristão…

Depois de uma visita de perto de uma hora deixamos o quarto do “professor”. Ficou em Itaipava aquele gigante com o corpo alquebrado, as pernas inchadas, a dificuldade de ouvir e de enxergar, vestido com um terno, uma camisa sem gravata e respirando uma imensa dignidade através do irmão corpo.

Foi uma visita que fizemos ao irmão Paulo Machado da Costa e Silva, honra da Família Franciscana e da Ordem Secular inventada por Francisco de Assis.

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Espiritual Regional Sudeste 2 RJ/ES

Fonte: Franciscanos.org