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28 junho 2015

EPF 2015 - Alegria do Evangelho

Caros irmãos, paz e bem!

Conforme pedido na última Escolha Permanente de Formação (27/06), vamos publicar diariamente em nosso blog alguns artigos da Alegria do Evangelho para leitura e meditação, bom aproveito.

1. A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com JesusCristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

1. Alegria que se renova e comunica
2. O grande risco do mundo atual, com a sua múltipla e avassaladora oferta
de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e
mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência
isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver
espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já
não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o
bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes.
Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem
vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que
Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo
ressuscitado.

3. Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a
renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a
tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem
cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz
respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído».
Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em
direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.
Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: «Senhor, deixei-me enganar, de mil
maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha
aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me
mais uma vez nos vossos braços redentores.» Como nos faz bem voltar para Ele,
quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca se cansa de perdoar,
somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos
convidou a perdoar «setenta vezes sete» (Mt 18,22) dá-nos o exemplo: Ele
perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros.
Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos
confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que
nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da
ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que
nada possa mais do que a sua vida que nos impele para diante!

4. Os livros do Antigo Testamento preanunciaram a alegria da salvação, que
havia de tornar-se superabundante nos tempos messiânicos. O profeta Isaías
dirige-se ao Messias esperado, saudando-o com regozijo: «Multiplicaste a
alegria, aumentaste o júbilo» (9,2). E anima os habitantes de Sião a recebê-lo
com cânticos: «Exultai de alegria!» (12,6). A quem já o avistara no horizonte, o
profeta convida-o a tornar-se mensageiro para os outros: «Sobe a um alto monte,
arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém» (40,9). A criação
inteira participa nesta alegria da salvação: «Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó
terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu
povo e se compadece dos desamparados» (49,13).
Zacarias, vendo o dia do Senhor, convida a vitoriar o Rei que chega
«humilde, montado num jumento»: «Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos
de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti. Ele é justo e vitorioso»
(9,9). Mas o convite mais tocante talvez seja o do profeta Sofonias, que nos
mostra o próprio Deus como um centro irradiante de festa e de alegria, que quer
comunicar ao seu povo este júbilo salvífico. Enche-me de vida reler este texto:
«O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de
alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por
tua causa» (3,17).
É a alegria que se vive no meio das pequenas coisas da vida quotidiana,
como resposta ao amoroso convite de Deus nosso Pai: «Meu filho, se tens com
quê, trata-te bem (…). Não te prives da felicidade presente» (Sir 14,11.14).
Quanta ternura paterna se vislumbra por detrás destas palavras!

5. O Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida
insistentemente à alegria. Apenas alguns exemplos: «Alegra-te» é a saudação do
anjo a Maria (Lc 1,28). A visita de Maria a Isabel faz com que João salte de
alegria no ventre de sua mãe (cf. Lc 1,41). No seu cântico, Maria proclama: «O
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1,47). E, quando Jesus
começa o seu ministério, João exclama: «Esta é a minha alegria! E tornou-se
completa!» (Jo 3,29). O próprio Jesus «estremeceu de alegria sob a ação do
Espírito Santo» (Lc 10,21). A sua mensagem é fonte de alegria: «Manifestei-vos
estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja
completa» (Jo 15,11). A nossa alegria cristã brota da fonte do seu coração
transbordante. Ele promete aos seus discípulos: «Vós haveis de estar tristes, mas
a vossa tristeza há de converter-se em alegria» (Jo 16,20). E insiste: «Eu hei de
ver-vos de novo! Então, o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá
tirar a vossa alegria» (Jo 16,22). Depois, ao verem-no ressuscitado, «encheramse
de alegria» (Jo 20,20). O livro dos Atos dos Apóstolos conta que, na
primitiva comunidade, «tomavam o alimento com alegria» (2,46). Por onde
passaram os discípulos, «houve grande alegria» (8,8); e eles, no meio da
perseguição, «estavam cheios de alegria» (13,52). Um eunuco, recém-batizado,
«seguiu o seu caminho cheio de alegria» (8,39); e o carcereiro «entregou-se,
com a família, à alegria de ter acreditado em Deus» (16,34). Porque não
havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?

6. Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa.
Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as
etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transformase,
mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da
certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados.
Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves
dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a
alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo
no meio das piores angústias: «A paz foi desterrada da minha alma, já nem sei o
que é a felicidade (…). Isto, porém, guardo no meu coração; por isso, mantenho
a esperança. É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua
compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. (...) Bom é
esperar em silêncio a salvação do Senhor» (Lm 3,17.21-23.26).

7. A tentação apresenta-se, frequentemente, sob forma de desculpas e
queixas, como se tivesse de haver inúmeras condições para ser possível a
alegria. Habitualmente isto acontece, porque «a sociedade técnica teve a
possibilidade de multiplicar as ocasiões de prazer; no entanto ela encontra
dificuldades grandes no engendrar também a alegria».2 Posso dizer que as
alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias
de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar. Recordo também a
alegria genuína daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos
profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples. De
várias maneiras, estas alegrias bebem na fonte do amor maior, que é o de Deus,
a nós manifestado em Jesus Cristo. Não me cansarei de repetir estas palavras de
Bento XVI que nos levam ao centro do Evangelho: «Ao início do ser cristão,
não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta
forma, o rumo decisivo.»3

8. Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus,
que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência
isolada e da autorreferencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos,
quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos
conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais
verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu
este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de
o comunicar aos outros?

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