Esta página é para divulgação dos eventos do Conselho Regional e das Fraternidades que compõe este Regional. Sejam todos bem vindos! Paz e bem!

30 junho 2015

EPF 2015 - Alegria do Evangelho

19. A evangelização obedece ao mandato missionário de Jesus: «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20). Nestes versículos, aparece o momento em que o Ressuscitado envia os seus a pregar o Evangelho em todos os tempos e lugares, para que a fé n’Ele se estenda a todos os cantos da terra.

20. Na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de «saída», que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra (cf. Gn 12, 1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: «Vai; Eu te envio» (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (cf. Ex 3, 17). A Jeremias disse: «Irás aonde Eu te enviar» (Jr 1, 7). Naquele «ide» de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova «saída» missionária. Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.
21. A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de alegria (cf. Lc 10, 17). Vive-a Jesus, que exulta de alegria no Espírito Santo e louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e aos pequeninos 
(cf. Lc 10, 21). Sentem-na, cheios de admiração, os primeiros que se convertem no Pentecostes, ao ouvir «cada um na sua própria língua» (Act 2, 6) a pregação dos Apóstolos. Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi anunciado e está a frutificar. Mas contém sempre a dinâmica do êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além. O Senhor diz: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim» (Mc 1, 38). Ele, depois de lançar a semente num lugar, não se demora lá a explicar melhor ou a cumprir novos sinais, mas o Espírito leva-O a partir para outras aldeias.
22. A Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc 4, 26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas.
23. A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão «reveste essencialmente a forma de comunhão missionária».[20] Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém; assim foi anunciada pelo anjo aos pastores de Belém: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo» (Lc 2, 10). O Apocalipse fala de «uma Boa Nova de valor eterno para anunciar aos habitantes da terra: a todas as nações, tribos, línguas e povos» (Ap 14, 6).


24. A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva. Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe «envolver-se». Jesus lavou os pés aos seus discípulos. O Senhor envolve-Se e envolve os seus, pondo-Se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: «Sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 17). Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro das ovelhas», e estas escutam a sua voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a «acompanhar». Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também «frutificar». A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reacções lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora. Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da actividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar.

29 junho 2015

EPF 2015 - Alegria do Evangelho

2. A doce e reconfortante alegria de evangelizar

9. O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5, 14); «ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16).

10. A proposta é viver a um nível superior, mas não com menor intensidade: «Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De facto, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais». Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal: «Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: “A vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros”. Isto é, definitivamente, a missão». Consequentemente, um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral. Recuperemos e aumentemos o fervor de espírito, «a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas! (...) E que o mundo do nosso tempo, que procura ora na angústia ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo». Uma eterna novidade

11. Um anúncio renovado proporciona aos crentes, mesmo tíbios ou não praticantes, uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora. Na realidade, o seu centro e a sua essência são sempre o mesmo: o Deus que manifestou o seu amor imenso em Cristo morto e ressuscitado. Ele torna os seus fiéis sempre novos; ainda que sejam idosos, «renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 31). Cristo é a «Boa-Nova de valor eterno» (Ap 14, 6), sendo «o mesmo ontem, hoje e pelos séculos» (Heb 13, 8), mas a sua riqueza e a sua beleza são inesgotáveis. Ele é sempre jovem, e fonte de constante novidade. A Igreja não cessa de se maravilhar com a «profundidade de riqueza, de sabedoria e de ciência de Deus» (Rm 11, 33). São João da Cruz dizia: «Esta espessura de sabedoria e ciência de Deus é tão profunda e imensa, que, por mais que a alma saiba dela, sempre pode penetrá-la mais profundamente». Ou ainda, como afirmava Santo Ireneu: «Na sua vinda, [Cristo] trouxe consigo toda a novidade». Com a sua novidade, Ele pode sempre renovar a nossa vida e a nossa comunidade, e a proposta cristã, ainda que atravesse períodos obscuros e fraquezas eclesiais, nunca envelhece. Jesus Cristo pode romper também os esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreende-nos com a sua constante criatividade divina. Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual. Na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre «nova».

12. Embora esta missão nos exija uma entrega generosa, seria um erro considerá-la como uma heróica tarefa pessoal, dado que ela é, primariamente e acima de tudo o que possamos sondar e compreender, obra de Deus. Jesus é «o primeiro e o maior evangelizador». Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus, que quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com a força do seu Espírito. A verdadeira novidade é aquela que o próprio Deus misteriosamente quer produzir, aquela que Ele inspira, aquela que Ele provoca, aquela que Ele orienta e acompanha de mil e uma maneiras. Em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa pertence a Deus, «porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19) e é «só Deus que faz crescer» (1 Cor 3, 7). Esta convicção permite-nos manter a alegria no meio duma tarefa tão exigente e desafiadora que ocupa inteiramente a nossa vida. Pede-nos tudo, mas ao mesmo tempo dá-nos tudo.

13. E também não deveremos entender a novidade desta missão como um desenraizamento, como um esquecimento da história viva que nos acolhe e impele para diante. A memória é uma dimensão da nossa fé, que, por analogia com a memória de Israel, poderíamos chamar «deuteronómica». Jesus deixa-nos a Eucaristia como memória quotidiana da Igreja, que nos introduz cada vez mais na Páscoa (cf. Lc 22, 19). A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos de pedir. Os Apóstolos nunca mais esqueceram o momento em que Jesus lhes tocou o coração: «Eram as quatro horas da tarde» (Jo 1, 39). A memória faz-nos presente, juntamente com Jesus, uma verdadeira «nuvem de testemunhas» (Heb 12, 1). De entre elas, distinguem-se algumas pessoas que incidiram de maneira especial para fazer germinar a nossa alegria crente: «Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus» (Heb 13, 7). Às vezes, trata-se de pessoas simples e próximas de nós, que nos iniciaram na vida da fé: «Trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Lóide e na tua mãe Eunice» (2 Tm 1, 5). O crente é, fundamentalmente, «uma pessoa que faz memória».

3. A nova evangelização para a transmissão da fé
14. À escuta do Espírito, que nos ajuda a reconhecer comunitariamente os sinais dos tempos, celebrou-se de 7 a 28 de Outubro de 2012 a XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Lá foi recordado que a nova evangelização interpela a todos, realizando-se fundamentalmente em três âmbitos. Em primeiro lugar, mencionamos o âmbito da pastoral ordinária, «animada pelo fogo do Espírito a fim de incendiar os corações dos fiéis que frequentam regularmente a comunidade, reunindo-se no dia do Senhor, para se alimentarem da sua Palavra e do Pão de vida eterna». Devem ser incluídos também neste âmbito os fiéis que conservam uma fé católica intensa e sincera, exprimindo-a de diversos modos, embora não participem frequentemente no culto. Esta pastoral está orientada para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem cada vez melhor e com toda a sua vida ao amor de Deus. Em segundo lugar, lembramos o âmbito das «pessoas baptizadas que, porém, não vivem as exigências do Baptismo», não sentem uma pertença cordial à Igreja e já não experimentam a consolação da fé. Mãe sempre solícita, a Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho. Por fim, frisamos que a evangelização está essencialmente relacionada com a proclamação do Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre O recusaram. Muitos deles buscam secretamente a Deus, movidos pela nostalgia do seu rosto, mesmo em países de antiga tradição cristã. Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas «por atração».

15. João Paulo II convidou-nos a reconhecer que «não se pode perder a tensão para o anúncio» àqueles que estão longe de Cristo, «porque esta é a tarefa primária da Igreja». A atividade missionária «ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja» e «a causa missionária deve ser (…) a primeira de todas as causas». Que sucederia se tomássemos realmente a sério estas palavras? Simplesmente reconheceríamos que a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja. Nesta linha, os Bispos latino-americanos afirmaram que «não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos», sendo necessário passar «de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária». Esta tarefa continua a ser a fonte das maiores alegrias para a Igreja: «Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão» (Lc 15, 7).

A proposta desta Exortação e seus contornos
16. Com prazer, aceitei o convite dos Padres sinodais para redigir esta Exortação. Para o efeito, recolho a riqueza dos trabalhos do Sínodo; consultei também várias pessoas e pretendo, além disso, exprimir as preocupações que me movem neste momento concreto da obra evangelizadora da Igreja. Os temas relacionados com a evangelização no mundo atual, que se poderiam desenvolver aqui, são inumeráveis. Mas renunciei a tratar detalhadamente esta multiplicidade de questões que devem ser objeto de estudo e aprofundamento cuidadoso. Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar «descentralização».

17. Aqui escolhi propor algumas diretrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja, uma nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo. Neste quadro e com base na doutrina da Constituição dogmática Lumen gentium, decidi, entre outros temas, de me deter amplamente sobre as seguintes questões: a) A reforma da Igreja em saída missionária. b) As tentações dos agentes pastorais. c) A Igreja vista como a totalidade do povo de Deus que evangeliza. d) A homilia e a sua preparação. e) A inclusão social dos pobres. f) A paz e o diálogo social. g) As motivações espirituais para o compromisso missionário. 18. Demorei-me nestes temas, desenvolvendo-os dum modo que talvez possa parecer excessivo. Mas não o fiz com a intenção de oferecer um tratado, mas só para mostrar a relevante incidência prática destes assuntos na missão atual da Igreja. De facto, todos eles ajudam a delinear um preciso estilo evangelizador, que convido a assumir em qualquer atividade que se realize. E, desta forma, podemos assumir, no meio do nosso trabalho diário, esta exortação da Palavra de Deus: «Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo vos digo: alegrai-vos!» (Fl 4, 4).

28 junho 2015

EPF 2015 - Alegria do Evangelho

Caros irmãos, paz e bem!

Conforme pedido na última Escolha Permanente de Formação (27/06), vamos publicar diariamente em nosso blog alguns artigos da Alegria do Evangelho para leitura e meditação, bom aproveito.

1. A ALEGRIA DO EVANGELHO enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com JesusCristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.

1. Alegria que se renova e comunica
2. O grande risco do mundo atual, com a sua múltipla e avassaladora oferta
de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e
mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência
isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver
espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já
não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o
bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes.
Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem
vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que
Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo
ressuscitado.

3. Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a
renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a
tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem
cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz
respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído».
Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em
direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada.
Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: «Senhor, deixei-me enganar, de mil
maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha
aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me
mais uma vez nos vossos braços redentores.» Como nos faz bem voltar para Ele,
quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca se cansa de perdoar,
somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos
convidou a perdoar «setenta vezes sete» (Mt 18,22) dá-nos o exemplo: Ele
perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros.
Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos
confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que
nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da
ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que
nada possa mais do que a sua vida que nos impele para diante!

4. Os livros do Antigo Testamento preanunciaram a alegria da salvação, que
havia de tornar-se superabundante nos tempos messiânicos. O profeta Isaías
dirige-se ao Messias esperado, saudando-o com regozijo: «Multiplicaste a
alegria, aumentaste o júbilo» (9,2). E anima os habitantes de Sião a recebê-lo
com cânticos: «Exultai de alegria!» (12,6). A quem já o avistara no horizonte, o
profeta convida-o a tornar-se mensageiro para os outros: «Sobe a um alto monte,
arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém» (40,9). A criação
inteira participa nesta alegria da salvação: «Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó
terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu
povo e se compadece dos desamparados» (49,13).
Zacarias, vendo o dia do Senhor, convida a vitoriar o Rei que chega
«humilde, montado num jumento»: «Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos
de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti. Ele é justo e vitorioso»
(9,9). Mas o convite mais tocante talvez seja o do profeta Sofonias, que nos
mostra o próprio Deus como um centro irradiante de festa e de alegria, que quer
comunicar ao seu povo este júbilo salvífico. Enche-me de vida reler este texto:
«O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como poderoso salvador! Ele exulta de
alegria por tua causa, pelo seu amor te renovará. Ele dança e grita de alegria por
tua causa» (3,17).
É a alegria que se vive no meio das pequenas coisas da vida quotidiana,
como resposta ao amoroso convite de Deus nosso Pai: «Meu filho, se tens com
quê, trata-te bem (…). Não te prives da felicidade presente» (Sir 14,11.14).
Quanta ternura paterna se vislumbra por detrás destas palavras!

5. O Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida
insistentemente à alegria. Apenas alguns exemplos: «Alegra-te» é a saudação do
anjo a Maria (Lc 1,28). A visita de Maria a Isabel faz com que João salte de
alegria no ventre de sua mãe (cf. Lc 1,41). No seu cântico, Maria proclama: «O
meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador» (Lc 1,47). E, quando Jesus
começa o seu ministério, João exclama: «Esta é a minha alegria! E tornou-se
completa!» (Jo 3,29). O próprio Jesus «estremeceu de alegria sob a ação do
Espírito Santo» (Lc 10,21). A sua mensagem é fonte de alegria: «Manifestei-vos
estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja
completa» (Jo 15,11). A nossa alegria cristã brota da fonte do seu coração
transbordante. Ele promete aos seus discípulos: «Vós haveis de estar tristes, mas
a vossa tristeza há de converter-se em alegria» (Jo 16,20). E insiste: «Eu hei de
ver-vos de novo! Então, o vosso coração há de alegrar-se e ninguém vos poderá
tirar a vossa alegria» (Jo 16,22). Depois, ao verem-no ressuscitado, «encheramse
de alegria» (Jo 20,20). O livro dos Atos dos Apóstolos conta que, na
primitiva comunidade, «tomavam o alimento com alegria» (2,46). Por onde
passaram os discípulos, «houve grande alegria» (8,8); e eles, no meio da
perseguição, «estavam cheios de alegria» (13,52). Um eunuco, recém-batizado,
«seguiu o seu caminho cheio de alegria» (8,39); e o carcereiro «entregou-se,
com a família, à alegria de ter acreditado em Deus» (16,34). Porque não
havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?

6. Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa.
Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as
etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transformase,
mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da
certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados.
Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves
dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a
alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo
no meio das piores angústias: «A paz foi desterrada da minha alma, já nem sei o
que é a felicidade (…). Isto, porém, guardo no meu coração; por isso, mantenho
a esperança. É que a misericórdia do Senhor não acaba, não se esgota a sua
compaixão. Cada manhã ela se renova; é grande a tua fidelidade. (...) Bom é
esperar em silêncio a salvação do Senhor» (Lm 3,17.21-23.26).

7. A tentação apresenta-se, frequentemente, sob forma de desculpas e
queixas, como se tivesse de haver inúmeras condições para ser possível a
alegria. Habitualmente isto acontece, porque «a sociedade técnica teve a
possibilidade de multiplicar as ocasiões de prazer; no entanto ela encontra
dificuldades grandes no engendrar também a alegria».2 Posso dizer que as
alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias
de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar. Recordo também a
alegria genuína daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos
profissionais, souberam conservar um coração crente, generoso e simples. De
várias maneiras, estas alegrias bebem na fonte do amor maior, que é o de Deus,
a nós manifestado em Jesus Cristo. Não me cansarei de repetir estas palavras de
Bento XVI que nos levam ao centro do Evangelho: «Ao início do ser cristão,
não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta
forma, o rumo decisivo.»3

8. Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus,
que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência
isolada e da autorreferencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos,
quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos
conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais
verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu
este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de
o comunicar aos outros?

22 junho 2015

VISITA FRATERNO-PASTORAL À FRATERNIDADE IMACULADA CONCEIÇÃO ENGENHO DENTRO



No dia 21 de junho (domingo), o Coordenador do Primeiro Distrito do Regional Sudeste 2, Dalvo Correia Torres e o Assistente Espiritual Regional pela obediência Conventual, frei Francisco OFM Conv fizeram a Primeira Visita Fraterno-Pastoral à Fraternidade Imaculada Conceição, no Engenho de Dentro / RJ.

A Fraternidade está cheia de ânimo e disposição de seguir o exemplo de Francisco e Clara.

Foi uma Visita gratificante!

Paz e Bem !


10 junho 2015

Encontro de Casais Franciscanos

Queridos irmãos paz e bem!

Segue carta convidando para o Encontro de Casais Franciscanos de 2015, que será realizado na Fraternidade São Francisco de Assis - Rio Comprido.